Macau, que é juntamente com Hong Kong uma das duas Regiões Administrativas Especiais da China, prepara-se para empossar o seu quarto Chefe do Executivo (CE) desde a passagem da administração da cidade de mãos portuguesas para mãos chinesas em 1999.
A liderança vai passar dia 20 de dezembro de 2024 para as mãos de Sam Hou Fai, juiz e antigo presidente do Tribunal de Última Instância. O antigo juiz destaca-se dos seus antecessores em vários aspectos: é o primeiro CE dos últimos 25 anos a não ter nascido em Macau ou oriundo de empresários de famílias influentes que mereceram até agora a confiança de Pequim para gerir a cidade. Tem também o aspeto curioso de ser o primeiro a dominar a língua portuguesa desde o Governador Rocha Vieira, último governador português. Apesar de mais conhecida pelos seus casinos, a mensagem do governo chinês nos últimos nos não tem deixado margem para dúvidas: Macau tem que diversificar a sua economia além dessa área e melhor integrar-se à Grande Baía, uma demarcação geográfica, econômica e política que inclui não só Macau e Hong Kong, mas a província de Guangdong.
Sam de fato possui uma ligação com Portugal interessante. O juiz faz parte de um leque de oficiais do interior da China preparados para estudarem lei e direito português e posicionados em Macau antes da transferência, com o propósito de tomar várias posições de chefia.
Nascido em Zhongshan, na província de Guangdong, Sam estudou direito em Pequim e mudou-se para Macau em 1986, sendo enviado quatro anos depois para Portugal, pela administração local, para estudar Direito e Língua e Cultura Portuguesa na Universidade de Coimbra. Três anos depois regressou a Macau, tornando-se um dos primeiros conselheiros judiciais dos tribunais e trabalhando tanto em tribunais como no Ministério Público. Após se tornar juiz em 1997, foi nomeado primeiro presidente do Tribunal de Última Instância de Macau, cargo que exercerá durante 25 anos.
A administração chinesa sublinhou repetidamente que a cidade deve fazer bom uso da sua ligação histórica com Portugal para melhor servir de elo entre a China e os Países de Língua Portuguesa.
Após ser indigitado como CE eleito, Sam prometeu um reforço da cooperação com os Países de Língua Portuguesa, realçando a promoção da “economia, o turismo e alta tecnologia” em um mercado de 1,7 milhão de pessoas.
Considerou ainda haver a necessidade de reforçar a aposta na formação de quadros bilíngues e
aproveitar ao máximo o estatuto privilegiado e as vantagens únicas de Macau, [incluindo] a ligação histórica, cultural e linguística [àqueles Estados].
Essa linguagem reflete muito daquilo pronunciado pela chefia do anterior executivo de Ho Iat Seng, que, citando problemas de saúde, não concorreu a um segundo mandato — costume para os líderes da cidade. No entanto, fora dos slogans, é difícil nomear claramente o que foi feito em termos práticos nessa direção pelas autoridades da cidade nos últimos cinco anos, sobrando dúvidas se a cidade tem a capacidade, ou até vontade, de ocupar esse papel.
Uma nova direção com uma ligação ainda mais estreita a Beijing preconiza, desse modo, que a mesma é para ser cumprida com afinco. Resta saber se Sam, que ainda não nomeou a sua nova equipe de administração, vai se rodear de gente com a capacidade e “jogo de cintura” para tornar esse desígnio atribuído à cidade em algo real que traga frutos ao país.
Foto de blackcurrant great, Pexels
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