Em 2020, o mundo inteiro foi surpreendido pela eclosão da pandemia de COVID-19. Começando em Wuhan, não tardou para a comunidade científica elaborar uma hipótese provável para explicar o ocorrido, mas, ainda assim, determinados políticos e formadores de opinião passaram a tratar o tema de maneira anticientífica. Assim, uma imagem negativa sobre Wuhan foi construída mundo afora.
Isto foi particularmente relevante nos Estados Unidos, com o então presidente Donald Trump. Procedeu-se a culpabilizar os chineses, no geral, pela eclosão da pandemia, cogitando publicamente que o vírus teria sido criado artificialmente no Instituto de Virologia de Wuhan. O consenso científico aponta claramente para a existência de um "animal hospedeiro intermediário", que teria sido responsável pela introdução do coronavírus em humanos. [1] Consequentemente, é muito improvável que o COVID-19 tenha sido manipulado em um laboratório. Contrariando a ciência e guiado por interesses geopolíticos, Trump insistiu na retórica da culpabilização dos chineses, trazendo consequências contra imigrantes asiáticos e seus descendentes residentes nos Estados Unidos. [2]
O desenvolvimento de vírus para pandemias, por outro lado, não é particularmente novidade. Ao longo da história, mutações virais ocorreram em diferentes países. Apesar do tom acusativo e julgador, Trump pareceu esquecer-se que a maior pandemia da história, conhecida como a Gripe Espanhola, teve sua origem em campos de treinamento militar nos Estados Unidos, mais especificamente no Kansas, em 1918. O nome que marcou a gripe apenas se conformou como tal porque atingiu com maior intensidade a população espanhola. Sob essa mesma ótica julgadora e antiética, a Gripe Espanhola poderia ser chamada de Gripe Estadunidense, tendo deixado 50 milhões de mortos. [3] As desinformações propagadas sobre a origem da COVID-19, no entanto, não foram apenas actos ignorantes. Houve uma clara tentativa de contenção à ascensão política e econômica da China no mundo.
No entanto, Wuhan continua a desempenhar um papel-chave no processo de desenvolvimento da China. Quase quatro anos após a eclosão da pandemia, e após séries de quarentenas e uma intensa campanha de vacinação, finalmente a situação foi normalizada na China. Ainda este ano, o governo chinês reabriu as fronteiras de várias cidades chinesas, entre elas Wuhan, para intercambistas, turistas e trabalhadores estrangeiros. Afinal, o que é Wuhan? Antes e depois da pandemia, Wuhan difere completamente das impressões construídas em 2020 pelos discursos anti-China. Segue agora um pouco de contexto.
Wuhan é a capital e a maior cidade da província de Hubei. Durante a República da China (1912-1949), e o governo do Kuomintang 国民党 (também conhecido como o Partido Nacionalista), Wuhan chegou a ser a capital do país (1927) em meio às tentativas de unificação nacional. Mais tarde, em 1937, voltou a ser a capital nacional porque estava melhor localizada para resistir à invasão japonesa durante a Segunda Guerra Mundial. [4]
É, contemporaneamente, considerada uma das nove cidades centrais da China. Possui 12 milhões de habitantes, um PIB de CNY 1,7 trilhões e um Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de 0,810, o que é bastante alto. [5] Localizada no centro do país, Wuhan funciona como um polo estratégico para a logística nacional. Conecta-se a outras grandes cidades através de ferrovias, estradas e vias expressas, promovendo a movimentação de bens e comércio.
Atualmente, Wuhan se destaca por abrigar 83 instituições de ensino superior, cada uma com dezenas de milhares de alunos. Hospedando milhões de estudantes, Wuhan é a maior cidade universitária do mundo. Estas universidades, em geral, abrigam estrangeiros – desde estudantes da língua chinesa até graduandos, mestrandos e doutorandos. Para os conhecedores da cidade, Wuhan representa um centro de oportunidades estudantis. Por exemplo, segundo o Ranking Acadêmico das Universidades Mundiais, a Universidade Wuhan é a 11ª melhor universidade da China. Os universitários residentes na cidade, destinados a tornarem-se mão de obra especializada, evidenciam a relevância estratégica de Wuhan para o processo de desenvolvimento nacional guiado por um intenso processo de industrialização associada a avanços em Ciência e Tecnologia e Pesquisa e Desenvolvimento.
Ainda que as consequências da pandemia tenham sido inesquecíveis e dolorosas, qualquer questionamento sobre o que ocorreu em janeiro de 2020, em Wuhan, deve ser feito sempre de maneira socialmente responsável e comprometida com a ciência. Agora, devemos voltar a enxergar Wuhan tal como é: uma das cidades mais importantes para o desenvolvimento da China.
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