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Em julho de 2013, o então Primeiro-Ministro do Paquistão, Nawaz Sharif, assinou um acordo para desenvolver o Plano de Longo Prazo do Corredor Econômico China-Paquistão (CPEC – figuras 1 e 2).
Esse corredor foi e continua sendo centrado na conexão da cidade chinesa de Kashgar à cidade portuária paquistanesa de Gwadar. Ele foi formalmente lançado durante a visita do Presidente chinês Xi Jinping ao Paquistão em 2015. Inicialmente, o CPEC foi descrito como um investimento de 46 bilhões de dólares, mas agora é estimado em cerca de 62 bilhões de dólares. Seu montante é equivalente ao total de investimentos feitos pela China no Paquistão entre 1970 e 2015.
Dividido em três fases, o CPEC abrange uma série de projetos voltados para acelerar o desenvolvimento da infraestrutura, da indústria e do setor socioeconômico.
O CPEC, uma pedra angular da política regional da China, é o principal projeto da Iniciativa do Cinturão e Rota (Belt and Road Initiative - BRI). Entrando em sua segunda fase a partir de 2025, o CPEC inicialmente se concentrou na melhoria da infraestrutura e da conectividade. Seus principais componentes incluíam projetos de instalações energéticas para enfrentar a crise energética do Paquistão, além da construção de rodovias, ferrovias, oleodutos e redes de fibra óptica, conectando a região oeste da China ao Mar Arábico através do porto de águas profundas de Gwadar, no Paquistão.
Isso proporciona acesso direto ao Oceano Índico e a um percurso mais curto para o abastecimento de petróleo do Oriente Médio e da África. [1] Beijing não vê o CPEC apenas como um projeto de desenvolvimento de infraestrutura e conectividade, mas também como um portal para a integração regional em prol da paz e prosperidade, além de construir uma “Comunidade de Futuro Compartilhado”. Assim, reduzindo sua dependência do Estreito de Malaca, um ponto de estrangulamento estratégico que poderia ser facilmente bloqueado pelos Estados Unidos em tempos de conflito.
Para o Paquistão, o projeto promete trazer benefícios econômicos por meio de investimentos, geração de empregos e laços mais estreitos com a segunda maior economia do mundo. [2] Exemplos disso incluem o investimento na expansão da rede elétrica do país, adicionando 13.000 MW, dos quais 10.000 MW foram concluídos até 2018. Esse investimento no setor energético é essencial para o CPEC e visa reduzir o déficit energético do Paquistão anterior a 2018. O aumento na oferta de energia ajudaria a revitalizar a indústria e acrescentaria 2% ao PIB do país. [3]
Além disso, os investimentos em infraestrutura rodoviária e ferroviária devem facilitar o transporte de mercadorias e impulsionar o turismo local. Essas mercadorias, destinadas a Gwadar, incluirão produtos chineses e paquistaneses para exportação a outros continentes.
Ademais, há planos para a construção de 46 Zonas Econômicas Especiais (SEZs) no Paquistão, oferecendo incentivos para investimentos estrangeiros e liberdades econômicas para o desenvolvimento industrial. [4]
Para o desenvolvimento do porto de Gwadar, trinta organizações já investiram na zona de livre comércio desde o lançamento, e milhões foram alocados para sua expansão. As iniciativas incluem o desenvolvimento da Universidade de Gwadar, a promoção das indústrias siderúrgicas e petroquímicas, além de melhorias na pesca e na construção naval. Devido à sua localização estratégica próxima ao Estreito de Ormuz, que movimenta entre 20% e 30% do comércio internacional de petróleo, essa cidade portuária tem o potencial de se tornar um centro regional de comércio e trânsito. [5]
Notavelmente, 36 projetos foram concluídos na primeira fase do CPEC, em julho de 2021. Esses projetos incluíram infraestrutura, energia e desenvolvimento socioeconômico, especialmente aqueles em Gwadar. [6]
As iniciativas concluídas são consideradas projetos de colheita antecipada, voltados para a melhoria do transporte e da conectividade, além de impulsionar a confiança dos investidores privados. [7]
O CPEC entrou em sua segunda fase em 2024, que especialistas e formuladores de políticas públicas consideram uma iniciativa transformadora para o Paquistão e para a região como um todo. Essa fase deve impulsionar a transferência de tecnologia e o crescimento industrial no Paquistão. Durante a celebração do 75º aniversário da República Popular da China, o Primeiro-Ministro do Paquistão, Shehbaz Sharif, destacou o vasto potencial de cooperação nos setores de agricultura, tecnologia da informação, mineração e outras áreas estratégicas.
Na fase 2, o Paquistão planeja concluir 70 projetos, com China e Paquistão comprometidos em lançar conjuntamente cinco novos corredores: o Corredor de Crescimento, o Corredor de Projetos de Desenvolvimento Econômico, o Corredor de Inovação, o Corredor Verde e o Corredor de Conectividade Regional.
O CPEC tem sido corretamente visto como uma iniciativa fundamental para revitalizar a economia do Paquistão e transformar as relações sino-paquistanesas em uma parceria estratégica e econômica. No entanto, desde o lançamento do projeto, vários obstáculos têm desacelerado seu progresso.
Cidadãos chineses e forças de segurança paquistanesas há muito tempo são alvos de grupos militantes separatistas, como o banido Exército de Libertação do Baluchistão (BLA) e a Frente de Libertação do Baluchistão (BLF), que alegam que China e Paquistão estão usurpando suas terras e recursos.
Da mesma forma, outros grupos terroristas, como o Tehrik-e-Taliban Pakistan (TTP) e suas facções, atacaram cidadãos chineses que trabalham em diversos projetos na província de Khyber Pakhtunkhwa (KP). Desde a tomada do Afeganistão pelo Talibã, o TTP tornou-se mais agressivo e aumentou suas atividades terroristas no Paquistão.
Nos últimos anos, a segurança dos cidadãos chineses tornou-se um grande desafio para o Paquistão. Por exemplo, houve vários ataques graves contra trabalhadores chineses em diferentes projetos, aumentando as preocupações de Beijing. A China classificou tais ataques como inaceitáveis e um dos principais desafios para o CPEC.
Certamente, a deterioração da segurança prejudicou o projeto, impactando negativamente a capacidade das empresas chinesas de expandir suas atividades no Paquistão. Como resultado, a China está considerando a implementação de mecanismos conjuntos de segurança com o Paquistão, marcando uma mudança significativa na política e destacando a seriedade da situação.
A instabilidade política e a polarização no Paquistão também contribuíram para a desaceleração do CPEC. Atualmente, o país enfrenta uma das crises políticas mais graves desde sua desintegração em 1971.
Processos políticos instáveis, mudanças frequentes nas políticas governamentais, corrupção, favoritismo, polarização política e a priorização administrativa de diferentes aspectos do CPEC têm dificultado o avanço do projeto.
Esse conjunto de insatisfações gerou ressentimento em algumas províncias, manifestado em demandas por uma maior participação nos benefícios do projeto. Essas questões têm sido exploradas por grupos separatistas e subnacionalistas, como o Movimento Pashtun Tahaffuz (PTM) e o Comitê de Unidade do Baluchistão (Baloch Yakjehti Committee). [8]
Tudo isso contribui para tornar a situação ainda mais complexa. A China tomou conhecimento dessas questões, instando as autoridades paquistanesas a pôr fim à instabilidade política.
Outro grande obstáculo para o CPEC é o conjunto de rivalidades geopolíticas envolvendo Paquistão, Índia, China e Estados Unidos. Em primeiro lugar, a rota do CPEC passa por Gilgit-Baltistão (figura 3), um território administrado pelo Paquistão, mas reivindicado pela Índia.
Nova Délhi considera este projeto uma violação de sua soberania. A Índia também percebe a BRI como uma ameaça, pois ela fornece à China conectividade terrestre com a região do Oceano Índico.
Além disso, a crescente competição sino-americana também lançou uma sombra sobre o CPEC. Os EUA percebem que o CPEC fortalece a influência da China no Sul da Ásia e na península arábica, rica em energia. Eles acreditam que o CPEC, como parte da Iniciativa do Cinturão e Rota (BRI), representará um grande desafio no Indo-Pacífico e é uma manifestação da economia predatória da China.
A oposição de Nova Déli e Washington à BRI e, por extensão, ao CPEC, deve ser vista como um problema geopolítico maior, não menos importante, pois ambos os países aprofundaram sua parceria estratégica para conter as investidas crescentes da China na região.
De fato, o CPEC também ajudará a reforçar a segurança econômica da China, pois sua nova rota terrestre reduzirá a dependência exclusiva do Estreito de Malaca. Além de garantir uma importante rota comercial marítima para importar petróleo de países como Arábia Saudita e Irã, esse canal permitirá que a China aumente suas exportações de eletrônicos e outros bens manufaturados para o Oriente Médio e a África.
A consequente diversificação de suas rotas comerciais tornará suas linhas de abastecimento relativamente menos vulneráveis a ações punitivas. Portanto, para conter a China, tanto a Índia quanto os EUA acharão útil impedir o CPEC e a BRI.
No geral, o CPEC, que foi projetado para dar à China um maior acesso ao Oeste da Ásia e além, está cercado por uma série de desafios. Uma grande preocupação geopolítica decorre da oposição da Índia e dos EUA ao projeto. Isso ocorre principalmente porque a tentativa da China de aumentar sua influência no Indo-Pacífico é vista como uma ameaça àquilo que os EUA chamam de ordem baseada em regras.
Dado que a Índia é tanto adversária da China quanto parceira dos EUA, continuará sendo uma grande oponente do projeto. Isso é algo que prejudicará seus laços com a China e o Paquistão, representando um grande desafio para o CPEC.
No âmbito interno, as preocupações com a segurança e a instabilidade política no Paquistão continuarão a ter um efeito negativo sobre o progresso do CPEC.
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