Estratégia de Poder Global

Estratégia de Poder Global

A política externa dos EUA na guerra tecnológica com a China

Revista Sinóptica 提纲

20 DE DEZEMBRO DE 2024
Alexandre Coelho

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Trump ampliará a diferença tecnológica entre EUA e China para assegurar a dominância dos EUA.

As eleições presidenciais de 2024 nos EUA inauguraram uma nova fase na geopolítica global, com Donald Trump garantindo um segundo mandato. Um pilar de sua política externa será a intensificação da rivalidade tecnológica com a China — uma relação já marcada por crescentes tensões comerciais, restrições tecnológicas e preocupações com a segurança nacional. À medida que os EUA e a China competem pela dominância em tecnologias emergentes como inteligência artificial (IA), 5G e computação quântica, a próxima administração americana enfrentará decisões sobre como pressionar a China nessa competição estratégica e reconfigurar o cenário tecnológico global.

Em seu primeiro mandato, Trump iniciou uma guerra comercial com a China, focando em setores como telecomunicações, IA e semicondutores. Os EUA impuseram tarifas sobre produtos chineses e sancionaram empresas chinesas como Huawei e ZTE, cortando seu acesso a tecnologias avançadas dos EUA. Com a reeleição de Trump, essa rivalidade tecnológica provavelmente não apenas continuará, mas também se intensificará. O desacoplamento dos ecossistemas tecnológicos entre EUA e China pode se aprofundar, especialmente em setores considerados críticos para a segurança nacional e o crescimento econômico.

A administração Trump deverá promover restrições ainda maiores ao acesso da China a tecnologias avançadas, particularmente em áreas como semicondutores, IA, biotecnologia e computação quântica. Essas tecnologias são vistas como essenciais não apenas para o poder econômico, mas também para a influência militar e geopolítica no século XXI. Dado o avanço significativo da China em IA e infraestrutura de 5G, os EUA enfrentam uma pressão crescente para manter sua vantagem tecnológica. Trump pode adotar medidas mais rigorosas, ampliando a lista de empresas chinesas sujeitas a sanções e aumentando o controle do governo americano sobre investimentos estrangeiros em setores-chave.

Uma vantagem estratégica para os EUA nessa rivalidade tecnológica reside em sua rede global de alianças. O segundo mandato de Trump pode promover uma estratégia mais agressiva ao alavancar esses relacionamentos, especialmente com parceiros econômicos importantes, como Japão, Coreia do Sul e União Europeia. Ao construírem uma frente unida, os EUA poderiam trabalhar para limitar o acesso da China a tecnologias críticas, alinhando-se com parceiros em restrições similares.

Além disso, os EUA poderiam colaborar com aliados para estabelecer padrões globais alternativos para tecnologias emergentes, contrariando a tentativa da China de liderança tecnológica em organizações internacionais, como a União Internacional de Telecomunicações (UIT) e a Organização Mundial do Comércio (OMC). Essas alianças ajudariam a impedir que a China monopolizasse a próxima geração de infraestrutura digital, como o 5G, promovendo sistemas que estejam alinhados com os interesses de segurança, privacidade e governança de dados dos EUA e seus aliados.

Um princípio central da política de Trump em relação à China tem sido o desacoplamento no campo da tecnologia. Essa estratégia provavelmente continuará em seu segundo mandato, especialmente à medida que os EUA buscam reduzir sua dependência da fabricação chinesa para tecnologias críticas. A pandemia e as tensões geopolíticas contínuas com a China expuseram vulnerabilidades nas cadeias globais de suprimentos, especialmente em relação a semicondutores, metais de terras raras e outros materiais essenciais para indústrias de alta tecnologia.

Espera-se que Trump adote políticas voltadas para o retorno das cadeias de suprimentos críticas aos EUA ou para sua realocação em nações aliadas. Isso pode envolver o incentivo a empresas para transferir a produção da China para outras regiões, como Sudeste Asiático, Índia ou México, uma ação já iniciada durante a administração Biden. Ao diversificarem a cadeia de suprimentos global e reduzirem a dependência de fabricantes chineses, os EUA protegeriam sua infraestrutura tecnológica e limitariam a influência da China em indústrias críticas.

Em seu segundo mandato, Trump pode endurecer ainda mais os controles de exportação e os processos de triagem de investimentos para bloquear o acesso da China a tecnologias dos EUA. Os EUA já impuseram proibições de exportação em tecnologias-chave, incluindo semicondutores de alto desempenho, cruciais para as ambições da China em IA e supercomputação. Trump provavelmente expandirá essas medidas, visando tecnologias adicionais e mais empresas chinesas vistas como potenciais ameaças à segurança nacional dos EUA.

A administração Biden já havia adotado medidas mais rígidas em relação ao investimento estrangeiro direto (IED) em setores sensíveis, e Trump poderia aproveitar esses esforços. Ele pode usar o Comitê de Investimento Estrangeiro nos Estados Unidos (CFIUS) para examinar e potencialmente bloquear investimentos chineses em áreas como biotecnologia, infraestrutura de 5G e manufatura avançada. Isso serviria como um passo crucial para impedir que a China acesse tecnologias de ponta dos EUA e propriedade intelectual, ao mesmo tempo que sinalizaria para outras nações a importância de proteger tecnologias sensíveis do controle chinês.

O foco crescente na soberania tecnológica, em que as nações buscam controlar e regulamentar seus próprios ecossistemas digitais, será um componente-chave da estratégia de Trump. À medida que EUA e China disputam a dominância na economia digital, há um ímpeto crescente para as nações regularem os fluxos de dados e protegerem sua infraestrutura digital contra influências estrangeiras. Espera-se que Trump defenda políticas que reforcem a capacidade dos EUA de controlar sua infraestrutura tecnológica e dados, especialmente diante da crescente presença da China nos mercados globais de tecnologia.

Por exemplo, a administração de Trump pode continuar os esforços para limitar a influência de aplicativos chineses, como TikTok e WeChat, citando preocupações com a privacidade de dados e a potencial interferência do governo chinês. Além disso, Trump poderia pressionar por maior controle sobre a governança da internet, garantindo que os protocolos globais da internet estejam alinhados com os interesses dos EUA e impedindo que o modelo de censura da internet da China ganhe força globalmente.

Para manter sua liderança na corrida tecnológica global, os EUA precisarão priorizar a inovação doméstica. Além de restringir o acesso da China a tecnologias críticas, Trump aumentará provavelmente os investimentos em pesquisa e desenvolvimento, particularmente em áreas como IA, computação quântica e redes 6G. Ao investir em tecnologias de próxima geração, os EUA podem garantir sua vantagem competitiva e afirmar liderança nos padrões tecnológicos globais.

A administração de Trump pode também buscar liderar colaborações internacionais em pesquisa avançada, enquanto se opõe ativamente às tentativas da China de dominar as normas tecnológicas globais. Isso pode envolver parcerias com outras nações para estabelecer padrões para tecnologias emergentes, garantindo que esses padrões reflitam valores como privacidade de dados, cibersegurança e acesso aberto.

Embora a abordagem de Trump possa prejudicar os avanços tecnológicos da China, ela também apresenta riscos significativos. O desacoplamento das tecnologias dos EUA e da China pode levar a consequências econômicas substanciais para ambos os países, especialmente à medida que a China reage com suas próprias contramedidas. Além disso, a busca pela supremacia tecnológica por meio de sanções e restrições comerciais pode desorganizar as cadeias globais de suprimentos, resultando em custos mais altos para consumidores e empresas em ambas as nações.

Assim, o foco intenso na competição tecnológica pode desviar a atenção de outras questões globais urgentes, como mudança climática, saúde global e desigualdade econômica. Os EUA também podem enfrentar desafios diplomáticos de países que dependem da China para comércio e investimento. À medida que essa batalha tecnológica se intensifica, os EUA precisarão equilibrar cuidadosamente sua postura competitiva com o engajamento diplomático para evitar alienar aliados e parceiros-chave.

As eleições presidenciais de 2024 nos EUA prepararam o palco para um novo capítulo na rivalidade tecnológica com a China. Com o retorno de Trump à Casa Branca, espera-se que a competição entre as duas potências globais se intensifique, à medida que ambas disputam a liderança na próxima geração de tecnologias que moldarão a economia global e o cenário de segurança.

A estratégia de Trump provavelmente priorizará o desacoplamento tecnológico, com foco especial no setor de semicondutores de alto valor agregado, o fortalecimento de alianças estratégicas e a implementação de controles rigorosos para restringir o acesso da China a tecnologias críticas. Embora essas políticas visem salvaguardar a liderança tecnológica dos Estados Unidos, elas acarretam riscos significativos, incluindo disrupções econômicas — tanto globais quanto, de forma acentuada, domésticas — e o aprofundamento de tensões diplomáticas.

imagem de Dan Cristian Pădureț, Pexels

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Editado por

Renata Moraes
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