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O Efeito Trump e os Desafios à China em um Mundo Fragmentado

O Efeito Trump e os Desafios à China em um Mundo Fragmentado

特朗普与中国系列

2024年12月6日
Alexandre Coelho

Introdução

No último sábado (30 de novembro), Donald Trump, por meio de sua rede social Truth Social, ameaçou impor tarifas de até 100% sobre produtos dos países membros do BRICS, caso abandonem o dólar como moeda de liquidação comercial entre si.

A promessa, que reforça o uso de tarifas como ferramenta geoeconômica, teve impacto retórico direto sobre os produtos exportados pela China. [1] Toda a dinâmica é sintomática de uma transição global da ordem neoliberal - centrada em eficiência de mercado e interdependência - para uma nova ordem geoeconômica; onde instrumentos econômicos são usados para proteger interesses estratégicos e moldar relações internacionais.

A mudança foi acelerada por eventos recentes (como a pandemia de COVID-19, a guerra na Ucrânia, e tensões Sino-Americanas) e vem redefinindo as prioridades econômicas globais; substituindo a lógica da cooperação pela da competição estratégica.

No caso da China, as ameaças de Trump intensificam desafios econômicos e geopolíticos já existentes no contexto de transição: exigindo respostas rápidas e estratégicas para proteger sua posição global.

Impacto das Tarifas de 100% sobre os Produtos Chineses

A proposta de Donald Trump de impor tarifas de até 100% sobre produtos oriundos dos países do BRICS representa, na prática, uma ameaça direta ao modelo exportador da China; que ainda depende de mercados globais, especialmente para seu setor de eletrônicos e tecnologia. Se implementadas, essas tarifas poderiam causar uma redução expressiva nas exportações Chinesas, e desacelerar o crescimento econômico em até 4% em 2025.

Beijing provavelmente intensificará a diversificação geográfica de suas exportações, redirecionando produtos para mercados no Sudeste Asiático e na América Latina; provavelmente utilizando estratégias como o transbordo por países terceiros. Além disso, contramedidas Chinesas, como a desvalorização do renminbi e estímulos econômicos, poderiam ajudar a mitigar parte do impacto.

Contudo, essas políticas enfrentam limitações estruturais, e podem agravar problemas internos; como a saída de capitais e o aumento do endividamento corporativo.

Abandono do Dólar e Expansão dos Centros Offshore de RMB

A China, bem antes das primeiras ameaças tarifárias de Donald Trump em 2018, já vinha intensificando a sua estratégia de desdolarização, para reduzir a vulnerabilidade às pressões econômicas dos EUA.

Essa abordagem incluiu a criação do CIPS (Sistema de Pagamentos Interbancários Transfronteiriços) em 2015 - uma alternativa ao SWIFT -, e a expansão de Centros Offshore de RMB, como os de Londres e Singapura; que permitem transações em renminbi (RMB) fora da China continental.

Estes esforços são acompanhados por acordos de swap cambial, que viabilizam a troca direta de moedas entre bancos centrais, e que fomentam o uso da moeda Chinesa para liquidar operações comerciais entre a China e outros países; eliminando a necessidade de usar o dólar como intermediário.

Abaixo, apenas dois exemplos de contratos que visam facilitar o uso do RMB em operações comerciais - muito similares ao celebrado em novembro entre o BNDES e o CDB (China Development Bank):

China-Japão: Extensão de um acordo de 200 bilhões de RMB (30 bilhões de dólares), que reduz custos e facilita o comércio direto.

China-UE: Extensão de um acordo de 350 bilhões de RMB (50 bilhões de dólares), promovendo o uso do RMB em transações comerciais e financeiras com países europeus.

Dessa forma, a ameaça tarifária de Trump não apenas pressiona a China economicamente, mas também acelera sua estratégia de desdolarização e fortalecimento do RMB. Embora essa estratégia enfrente desafios no curto prazo, a longo prazo ela contribui para remodelar o sistema financeiro internacional; enfraquecendo a hegemonia do dólar e ampliando a autonomia financeira da China, num contexto de crescente rivalidade geoeconômica e geopolítica. [2]

Efeito Bumerangue nos Estados Unidos

Embora as tarifas propostas por Trump tenham como objetivo proteger a indústria Americana, seus impactos adversos seriam significativos.

Setores altamente dependentes de insumos Chineses, como tecnologia e energia renovável, sofreriam com o aumento dos custos de produção; elevando a inflação e reduzindo a competitividade global dos EUA.

Além disso, a retaliação Chinesa poderia incluir restrições à exportação de terras raras: críticas para a produção de semicondutores e equipamentos tecnológicos, além de sanções a empresas americanas. O isolamento econômico causado por políticas protecionistas também incentivaria o fortalecimento de Blocos Regionais e redes financeiras alternativas; como as promovidas pela China e pelo BRICS, enfraquecendo ainda mais a hegemonia econômica dos EUA.

Conclusão

A ameaça de tarifas elevadas de Donald Trump simboliza o avanço da ordem geoeconômica, onde a coerção econômica substitui a lógica da cooperação como ferramenta de influência global. Para a China, essas ameaças representam desafios imediatos, mas também oportunidades para fortalecer sua estratégia de by-pass institucional e expandir sua influência financeira.

Ainda assim, a intensificação das tensões comerciais e a fragmentação do sistema financeiro global criam instabilidade, com impactos negativos para ambos os países.

A transição para uma economia global multipolar exige respostas estratégicas e cooperativas, mas o atual cenário político reduz as chances de soluções colaborativas. Neste contexto, a competição estratégica define a nova dinâmica da economia global, desafiando o equilíbrio de poder e moldando um futuro incerto.

Notas

[1] Ferramenta geoeconômica refere-se ao uso estratégico de instrumentos econômicos por um Estado ou ator político para alcançar objetivos geopolíticos; como segurança nacional, influência política, ou fortalecimento da posição internacional. Diferentemente das abordagens puramente econômicas, que visam eficiência ou crescimento, as ferramentas geoeconômicas subordinam o uso de recursos econômicos a interesses estratégicos e de poder no cenário global. A geoeconomia tornou-se central na transição para um mundo multipolar, em que os Estados utilizam ferramentas econômicas para competir e colaborar, evitando conflitos armados e alianças diretas. No caso dos EUA e da China, a "Guerra Comercial" e as restrições a tecnologias exemplificam a crescente relevância das ferramentas geoeconômicas no cenário internacional.

[2] A geoeconomia e a geopolítica são formas complementares de exercício de poder. Enquanto a geopolítica tradicional se foca na força militar e controle territorial, a geoeconomia se concentra na influência econômica e financeira; sendo ambas cruciais na competição global contemporânea. Em um mundo cada vez mais multipolar, os Estados utilizam uma combinação de ambas para proteger interesses nacionais e moldar a ordem internacional.

本文是项目特朗普与中国系列的一部分。这是地缘政治分析中心 - 美国和欧亚的项目。

编辑

Caterina Paiva
Caterina Paiva

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