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No último sábado (30 de novembro), Donald Trump, por meio de sua rede social Truth Social, ameaçou impor tarifas de até 100% sobre produtos dos países membros do BRICS, caso abandonem o dólar como moeda de liquidação comercial entre si.
A promessa, que reforça o uso de tarifas como ferramenta geoeconômica, teve impacto retórico direto sobre os produtos exportados pela China. [1] Toda a dinâmica é sintomática de uma transição global da ordem neoliberal - centrada em eficiência de mercado e interdependência - para uma nova ordem geoeconômica; onde instrumentos econômicos são usados para proteger interesses estratégicos e moldar relações internacionais.
A mudança foi acelerada por eventos recentes (como a pandemia de COVID-19, a guerra na Ucrânia, e tensões Sino-Americanas) e vem redefinindo as prioridades econômicas globais; substituindo a lógica da cooperação pela da competição estratégica.
No caso da China, as ameaças de Trump intensificam desafios econômicos e geopolíticos já existentes no contexto de transição: exigindo respostas rápidas e estratégicas para proteger sua posição global.
A proposta de Donald Trump de impor tarifas de até 100% sobre produtos oriundos dos países do BRICS representa, na prática, uma ameaça direta ao modelo exportador da China; que ainda depende de mercados globais, especialmente para seu setor de eletrônicos e tecnologia. Se implementadas, essas tarifas poderiam causar uma redução expressiva nas exportações Chinesas, e desacelerar o crescimento econômico em até 4% em 2025.
Beijing provavelmente intensificará a diversificação geográfica de suas exportações, redirecionando produtos para mercados no Sudeste Asiático e na América Latina; provavelmente utilizando estratégias como o transbordo por países terceiros. Além disso, contramedidas Chinesas, como a desvalorização do renminbi e estímulos econômicos, poderiam ajudar a mitigar parte do impacto.
Contudo, essas políticas enfrentam limitações estruturais, e podem agravar problemas internos; como a saída de capitais e o aumento do endividamento corporativo.
A China, bem antes das primeiras ameaças tarifárias de Donald Trump em 2018, já vinha intensificando a sua estratégia de desdolarização, para reduzir a vulnerabilidade às pressões econômicas dos EUA.
Essa abordagem incluiu a criação do CIPS (Sistema de Pagamentos Interbancários Transfronteiriços) em 2015 - uma alternativa ao SWIFT -, e a expansão de Centros Offshore de RMB, como os de Londres e Singapura; que permitem transações em renminbi (RMB) fora da China continental.
Estes esforços são acompanhados por acordos de swap cambial, que viabilizam a troca direta de moedas entre bancos centrais, e que fomentam o uso da moeda Chinesa para liquidar operações comerciais entre a China e outros países; eliminando a necessidade de usar o dólar como intermediário.
Abaixo, apenas dois exemplos de contratos que visam facilitar o uso do RMB em operações comerciais - muito similares ao celebrado em novembro entre o BNDES e o CDB (China Development Bank):
China-Japão: Extensão de um acordo de 200 bilhões de RMB (30 bilhões de dólares), que reduz custos e facilita o comércio direto.
China-UE: Extensão de um acordo de 350 bilhões de RMB (50 bilhões de dólares), promovendo o uso do RMB em transações comerciais e financeiras com países europeus.
Dessa forma, a ameaça tarifária de Trump não apenas pressiona a China economicamente, mas também acelera sua estratégia de desdolarização e fortalecimento do RMB. Embora essa estratégia enfrente desafios no curto prazo, a longo prazo ela contribui para remodelar o sistema financeiro internacional; enfraquecendo a hegemonia do dólar e ampliando a autonomia financeira da China, num contexto de crescente rivalidade geoeconômica e geopolítica. [2]
Embora as tarifas propostas por Trump tenham como objetivo proteger a indústria Americana, seus impactos adversos seriam significativos.
Setores altamente dependentes de insumos Chineses, como tecnologia e energia renovável, sofreriam com o aumento dos custos de produção; elevando a inflação e reduzindo a competitividade global dos EUA.
Além disso, a retaliação Chinesa poderia incluir restrições à exportação de terras raras: críticas para a produção de semicondutores e equipamentos tecnológicos, além de sanções a empresas americanas. O isolamento econômico causado por políticas protecionistas também incentivaria o fortalecimento de Blocos Regionais e redes financeiras alternativas; como as promovidas pela China e pelo BRICS, enfraquecendo ainda mais a hegemonia econômica dos EUA.
A ameaça de tarifas elevadas de Donald Trump simboliza o avanço da ordem geoeconômica, onde a coerção econômica substitui a lógica da cooperação como ferramenta de influência global. Para a China, essas ameaças representam desafios imediatos, mas também oportunidades para fortalecer sua estratégia de by-pass institucional e expandir sua influência financeira.
Ainda assim, a intensificação das tensões comerciais e a fragmentação do sistema financeiro global criam instabilidade, com impactos negativos para ambos os países.
A transição para uma economia global multipolar exige respostas estratégicas e cooperativas, mas o atual cenário político reduz as chances de soluções colaborativas. Neste contexto, a competição estratégica define a nova dinâmica da economia global, desafiando o equilíbrio de poder e moldando um futuro incerto.
Notas
[1] Ferramenta geoeconômica refere-se ao uso estratégico de instrumentos econômicos por um Estado ou ator político para alcançar objetivos geopolíticos; como segurança nacional, influência política, ou fortalecimento da posição internacional. Diferentemente das abordagens puramente econômicas, que visam eficiência ou crescimento, as ferramentas geoeconômicas subordinam o uso de recursos econômicos a interesses estratégicos e de poder no cenário global. A geoeconomia tornou-se central na transição para um mundo multipolar, em que os Estados utilizam ferramentas econômicas para competir e colaborar, evitando conflitos armados e alianças diretas. No caso dos EUA e da China, a "Guerra Comercial" e as restrições a tecnologias exemplificam a crescente relevância das ferramentas geoeconômicas no cenário internacional.
[2] A geoeconomia e a geopolítica são formas complementares de exercício de poder. Enquanto a geopolítica tradicional se foca na força militar e controle territorial, a geoeconomia se concentra na influência econômica e financeira; sendo ambas cruciais na competição global contemporânea. Em um mundo cada vez mais multipolar, os Estados utilizam uma combinação de ambas para proteger interesses nacionais e moldar a ordem internacional.
本文是项目特朗普与中国系列的一部分。这是地缘政治分析中心 - 美国和欧亚的项目。
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